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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Formandos comemoraram a conquista pela internet
A manhã de quinta-feira foi histórica e recheada de simbolismos para a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e, especialmente, para os 59 estudantes da 100ª turma de Medicina que participaram da primeira formatura por videoconferência da história da instituição. Com a pandemia do coronavírus, a turma, que tinha formatura prevista para agosto, agilizou o cumprimento da carga horária em estágios finais e trabalhos teóricos para poder receber a graduação e atuar diretamente no combate à Covid-19. Mas como a UFSM está com atividades presenciais suspensas, e o contexto atual da pandemia impede aglomerações, a solução foi inovar. Sem festa, abraços, música e ornamentação, toda a formatura durou pouco mais de uma hora.
COMO FOI
Antes do começo da cerimônia, eram feitos os últimos detalhes técnicos e a chamada para conferir se todos os 59 formandos estavam online. No que foi classificado pelo vice-reitor Luciano Schuch como a antessala da cerimônia, a assessora do gabinete Solange Prediger repassava as últimas orientações: deixar o microfone desligado para evitar microfonia, exceto quando chamado, e levantar o braço direito durante o juramento. Os formandos também foram tranquilizados. Caso alguém perdesse a conexão no momento em que fosse chamado, todos aguardariam até o retorno. A cerimônia começou às 10h12min.
A formatura não ocorreu em um espaço físico, mas em um ambiente virtual. Na Sala dos Conselhos, no nono andar da reitoria, 13 pessoas - entre elas o reitor Paulo Burmann - estavam reunidas, mas cada uma com o próprio aparelho, seja um notebook ou um tablet, conectadas através de um fone de ouvido. Por isso, diferente de uma cerimônia comum, com barulho, música, aglomerações e discursos projetados em caixas de som, o silêncio imperava no local. Ao falar, todos se dirigiam a uma tela. Os presentes utilizavam os trajes oficiais de formatura.
Após a fala inicial do reitor, foi executado o hino nacional brasileiro, seguido do juramento, realizado pelo formando João Felipe Brutti. Neste momento, cada estudante, em casa, ergueu o braço direito, aguardou o juramento, ligou o microfone e disse "assim eu prometo". Com o delay, não ocorreu o tradicional coro. As respostas se repetiram por cerca de 10 segundos.
O momento da outorga do grau, com a chamada nominal de cada estudante, foi ainda mais curiosa. O aluno chamado, de casa, ligava o microfone, e o coordenador do curso, Arnaldo Teixeira Rodrigues, na reitoria, dizia as palavras que tornavam médicos os formandos, enquanto erguia o capelo (chapéu de formatura), com as mãos:
- Confiro-vos o grau de médico. Podeis exercer a medicina!
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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Momento da colação de grau
As reações eram diversas. A maioria agradecia com um respeitoso obrigado, sozinho, em casa. Mas também teve quem reagiu com gritos de alegria, que ecoavam pelos fones de ouvido dos presentes, comemorando com a família.
Na sequência, a recém-formada Fahena Martins, oradora da turma, que estava no local, discursou para os colegas e as mais de três mil pessoas que acompanharam o evento pela internet, com transmissão pelo Farol, plataforma oficial de streaming da instituição:
- Nossas amadas famílias, gostaríamos de abraça-los no dia de hoje. Mas neste momento, apenas podemos dizer que somos eternamente gratos.
A cerimônia ainda teve as falas da paraninfa da turma, professora Raíssa Massaia Londero Chemello, e do reitor Paulo Burmann. Toda a cerimônia durou pouco mais de uma hora. Após o encerramento ecoaram aplausos pela videoconferência e, um a um, os formandos deixavam a sala virtual. De casa, por uma tela, os até então estudantes agora se tornaram médicos aptos a exercer a profissão.
A oradora Fahena Martis, de 24 anos, preferiu participar da cerimônia na reitoria por questões técnicas. Nascida em Santa Cruz do Sul, a agora médica planeja exercer a profissão na cidade natal o quanto antes e atuar no combate a Covid-19.
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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
A oradora da turma, Fahena Martins, não conteve a emoção na hora da formatura
Para a formatura, outra opções, como a colação em drive-thru, entraram na discussão, mas a videoconferência foi escolhida por ser mais viável, já que alguns estudantes são de fora do Estado e não teriam como participar. Um ensaio ocorreu na quarta-feira, para alinhar questões técnicas e procedimentos. Ao término da cerimônia, a avaliação foi positiva, mas detalhes como a falta da música na hora da colação e o próprio calor humano fizeram falta.
- Quando terminei, o que mais senti falta foi de abraçar todo mundo. É um momento em que a gente jogaria o chapéu para cima, abraçaria todo mundo, é um dia em que se junta todas as famílias, todos os homenageados, todos os colegas. No quesito técnico, acho que nossa formatura funcionou muito bem, com alguns detalhes a melhorar. Mas no quesito coração, uma saudade que não tem como medir. A gente passa seis anos vendo a pessoa todos os dias e espera chegar o dia da formatura para se reencontrar e fazer um despedida. Isso não teve, e agora cada um vai tomar seu rumo - diz Fahena, que se maquiou e usou a beca exatamente como faria em uma cerimônia tradicional.
Após a formatura, ela participou de um churrasco com familiares próximos em comemoração. Mas a turma ainda quer se reunir e comemorar quando a situação voltar ao normal.
- A gente tinha fechado contrato com produtora, já tínhamos pago toda a formatura. Agora, queremos fazer uma festa no fim do ano, mas nem sabemos quando nem como isso vai acontecer, nem paramos para pensar nisso ainda - relata a médica.
A colação de grau adiantada não está relacionada com a portaria do Ministério da Educação, publicada em 6 de abril - que diz que alunos da área da saúde podem se formar se tiverem cursado, pelo menos, 75% da carga horária prevista para o período de internato médico ou estágio supervisionado. Todos os estudantes cumpriram toda a carga horária, adiantando estágios e trabalhos teóricos.
MOMENTO HISTÓRICO
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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Reitor Paulo Burmann participou da cerimônia
O reitor da UFSM Paulo Afonso Burmann considera a formatura como um momento histórico para a instituição:
- Evidentemente que nós não queríamos estar fazendo uma solenidade como essa. O que está nos trazendo para essa solenidade é exatamente essa pandemia que estamos vivendo, com mais de nove mil mortos no país e milhares no mundo todo. Coincidentemente é a primeira no sexagésimo aniversário da Universidade Federal de Santa Maria e igualmente a centésima turma do curso de Medicina. Tem uma série de simbolismos envolvidos nisso. Certamente vai ficar registrado nos anais desta Universidade.
A UFSM segue com as aulas suspensas e o campus fechado para visitantes. De acordo com Burmann, as medidas serão prorrogadas por pelo menos mais 15 dias. A antecipação da formatura também tem relação com o contexto da doença.
- Viabilizar que esses profissionais entrem na linha de frente do combate ao coronavírus. Essa é a principal razão, até a única, eu diria, para antecipação da solenidade da formatura. Atende uma demanda da Universidade, do Ministério da Educação e do Ministérios da Saúde - complementa.
No discurso de encerramento, o reitor atentou para a Marcha Virtual pela Ciência - ocorrida nesta quinta-feira - e partiu em defesa dos estudantes:
- Podem ter certeza que o estereótipo de estudante da balbúrdia e outros depreciativos que tentam criar sobre eles é falso.
Burmann também reconheceu o esforço dos formandos e de todos os demais envolvidos no processo educativo dos estudantes, como professores, funcionários da UFSM e familiares.
- Empenharam um grande esforço na antecipação da conclusão do curso para poderem somar-se à frente de combate a pandemia do coronavírus e, talvez, a nossa persistente epidemia de realidade paralela em relação ao contexto político, econômico e social - afirmou.
* colaborou Felipe Backes